Faz hoje, dia 8 de Março de 2016, 70 anos de idade, uma das maiores cantoras portuguesas de sempre, Antónia de Jesus Montes Tonicha Viegas, popularmente conhecida por Tonicha. Falarmos do seu percurso na Música Popular Portuguesa é, muito provavelmente, estarmos a repetirmo-nos, pois muito já se tem dito sobre a sua obra e a qualidade da mesma. No entanto pouca visibilidade se tem dado na comunicação social à sua pessoa como artista. Raramente o seu nome tem aparecido nas televisões, quer actuando, ou, mesmo como convidada num programa de entretenimento.
Como artista, Tonicha começou bem cedo, e, aos 18 anos, editou o seu primeiro disco, um EP, “Luar Para Esta Noite”, o único que assinou com o nome de Antónia Tonicha. Todos os outros, mais de uma centena (entre EP’s, singles, LP’s e CD’s), foram creditados com o nome de Tonicha.
Concorreu por quatro vezes ao Festival RTP da Canção Portuguesa, e, em 1971, obteve o primeiro lugar com o tema “Menina do Alto da Serra”, um dos temas mais populares de sempre associado a este certame anual da televisão portuguesa.
Populares foram também muitos dos seus discos de 45 rpm editados no final da década de 70, casos dos êxitos "Tu És o Zé Que Fumas", "Zumba Na Caneca", "Gaiteiro Português", "Sericotalho, Bacalhau, Azeite e Alho".
Mas nem foram sucessos de rádio na obra musical de Tonicha. A sua visão da sociedade portuguesa antes e depois do 25 de Abril de 1974, teve por parte da artista uma escolha bem selectiva no seu reportório em ambas as épocas. Se antes de Abril de 74 houve o cuidado com as escolhas, como foram exemplos os tradicionais “Farrapeirinha”, “Labuta, Meu Bem, Labuta”, “Os Bravos”, ou os originais mais politizados, como “Com um Cravo na Boca”, já depois de Abril, Tonicha teve uma maior abertura como mulher e artista na vida sociedade portuguesa. “Terras de Garcia Lorca”, "Obrigado Soldadinho" e "O Povo Em Marcha" foram canções de quem também viveu nesse tempo de liberdade e com o dever de deixar o seu testemunho.
Testemunho a que também ficará sempre associada foi no álbum ”Fala do Homem Nascido - Poemas de António Gedeão”, um dos melhores discos da Música Popular Portuguesa da década de 70. Neste ano de graças de 1972 também editou um memorável EP intitulado “4 Canções de Patxi Andion”.
No antes e depois houveram sempre bons músicos, bons compositores e bons produtores que dignificaram toda obra gravada da artista. Entre eles estão José Niza, Pedro Osório, Jorge Palma, José Cid e António Chaínho. E, se existem discos para serem lembrados como o já atrás referido, “Fala do Homem Nascido” em 1972, o que dizer de “As Duas Faces de Tonicha” em 1974 e “Ela Por Ela” em 1980? Dois belíssimos álbuns, o primeiro todo ele escrito por Ary dos Santos e com produção de Pedro Osório e o segundo maioritariamente escrito por Joaquim Pessoa e musicado por Carlos Mendes, com produção de João Viegas.
Entre a década de 80 e a década de 90 houve uma pausa artística, mas que em nada influenciou a qualidade da sua obra editada nos últimos anos. Para quem tiver dúvidas, ou ainda tem, basta ouvir o belíssimo disco que é, “Mulher”, de 1997, produzido por Luis Pedro Fonseca. Nos doze temas, estão incluidas algumas surpreendentes versões de autores estrangeiros e também nacionais, casos de Bryan Adams, Pedro Barroso e José Almada.
No fim queremos deixar também uma palavra de louvor pelo excelente blog que é o “Tonicha - Clube de Fãs”, um verdadeiro exemplo de como preservar no tempo a memória dos artistas portugueses, ou, caso da Tonicha, de divulgar a sua existência bem actual!
Texto de: Francisco J. Fonseca