Quase todos nós temos o nosso filme fetiche, que já vem da infância, ou o filme que nos marcou a adolescência, ou até o nosso Verão, ou mesmo o filme que nos fez despertar os sentidos... A muitos desses filmes está associada uma banda sonora, que, por força das circunstâncias, ficará quase sempre memorizada às cenas marcantes. Por vezes até nem são precisas palavras, basta a associação da imagem a determinado som e temos o filme a desenrolar à nossa frente... Um dos melhores exemplos está em “Jonathan Livingston Seagull” de 1973 dum tal Hall Bartlett, com a música orquestral de Neil Diamond. Não é preciso ter uma boa história para termos uma banda sonora ao nosso gosto. O que dizer de “Hard Day's Night” de Richard Lester em 1964 com os quatro Beatles a passarem todo o filme a fugirem dos fãs?...  E o que dizer de “Melody”, filme dirigido em 1971 por Waris Hussein que foi um flop comercial, mas no entanto é recordado pela prestação das melodias dos irmãos Gibb. O mesmo aconteceu nesse ano com “Harold And Maude” de Hal Ashby, mas desta vez com Cat Stevens a dar uma preciosa ajuda. Mas já que falamos dos Bee Gees, avançamos até 1977, o anos de todos os recordes discográficos com “Saturday Night Fever” a chamar a si todas as atenções pois foi a primeira Banda Sonora a atingir os 40 milhões de discos vendidos!




O filme musical sempre foi uma aposta ganha desde o distante ano de 1927, ano do primeiro filme sonoro, por sinal um musical, “The Jazz Singer”. Mas o mais mediático em todo o mundo continua a ser “Singin' In The Rain” dirigido em 1952 por Stanley Donen. Mas “West Side Story” e “The Sound Of Music”, ambos realizados por Robert Wise, em 1961 e 65 respectivamente, são os que mais perto estão dessa imortalidade.

Se há década em que as BSO (Banda Sonora Original) tiveram uma boa quota parte tanto nos lugares cimeiros dos Tops, como nas vendas, a década de 60 é fertil em bons exemplos. Na boa tradição dos compositores franceses na 7ª Arte (casos de Michel Legrand e Francis Lai) Maurice Jarre ganhou em 1965 um dos seus 3 Óscares e “Dr. Jivago” será porventura a obra mais conhecida. Em 67 Mike Nicols realizou “The Graduate”, um filme de culto que projectou a música de Simon & Garfunkel para os grandes écrans e para as grandes audiências. No ano seguinte surgiu Ennio Morricone com uma excelente banda-sonora para o não menos cotado Sergio Leone em “Once Upon a Time In The West”. Também “Midnight Cowboy” de John Schlesinger em 1969 teve um John Barry à altura, o mesmo compositor que dava nas vistas com a saga do famoso Agente 007. Em 1985 é a vez de John Barry ser o principal responsável ao arrebatar “Out Of Africa” da mediocridade geral.




A década de 70 trouxe mais do que nunca os filmes de culto e algumas participações para a história. “Zabriskie Point” de Michelangelo Antonioni, que alguém traduziu para português como “Deserto de Almas”, teve o mérito de apresentar e exemplificar musicalmente a melhor fase dos Pink Floyd. Já uns anos antes, isto em 1966, Antonioni dirigiu o aclamado “Blow-Up” com música de Herbie Hancock e uma sequência histórica dos Yardbirds ao vivo. Mas  é em 1971 o ano de consagração de Stanley Kubrick com “A Clockwork Orange” e de Walter Carlos como o seu moog-sintetizador reinterpretando Beethoven. Em 1976 surge um nome em ascenção na 7ª arte, Martin Scorcese, a encomendar a um velho mestre a sua derradeira obra. Bernard Hermann teve em “Táxi Driver” uma partitura ao nível das que tinha feito décadas atrás para Alfred Hitchcock e Orson Welles. Se nos anos 60 havia um compositor de destaque pela quantidade e qualidade do seu trabalho, esse nome é com todo o mérito Henry Mancini (20 Grammy's e 4 Óscares), já na década de 80 temos de destacar Giorgio Moroder. “Never Ending Story”, “Cat People”, “Midnight Express”, “Scarface”, “American Gigolo” e “Metropolis” são alguns titulos que marcaram a década e tiveram a assinatura de Moroder. A este nível só encontramos paralelo com algumas OST (Original Soundtrack) do conhecido músico grego Vangelis e de alguns filmes de referência, como são “Blade Runner” , “1492, The Conquest Of Paradise” e “Chariots Of Fire”. O designado Cult-Movie surge bem representado em 1984 com “Paris, Texas” dirigido por Wim Wenders, com música de Ry Cooder e que está ao nível de “One From The Heart” realizado dois anos antes por Francis Ford Coppola, com música de Tom Waits.




Agora, mais que nunca, a banda sonora promove o filme e consegue sobreviver muito para além das imagens. Estão neste patamar: “Shaft”, “Christiane F”, “Pulp Fiction”, “Twin Peaks”, “Purple Rain”, “Velvet Goldmine”, “Transpotting” e “The Crow”.
Mas o certo é que muitas outras bandas-sonoras existem e mereciam estar aqui comentadas, mas era assunto para nunca ter fim. E, em jeito de epilogo em muitas longa-metragens, este é também um enredo para “To Be Continued...”

Texto de: Francisco J. Fonseca