Passados 45 anos sobre a vinda de Elton John a Portugal, mais precisamente por ocasião do Festival de Vilar de Mouros, onde actuou no segundo fim-de-semana do Festival (Domingo, dia 8 de Agosto), temos o privilégio de apresentar algumas fotografias inéditas desse espectáculo. Infelizmente não existe nenhum documento em filme da sua actuação e não são tantas assim as fotografias que nos chegaram até ao presente, como seria espectável. Pelo que sabemos, o nosso primeiro “Woodstock” não teve a cobertura mediática desejável, muito devido a um certo mal estar da politica vigente em relação às iniciativas em prol da juventude. O mentor deste projecto pioneiro, Dr. António Barge, tentou contornar o sistema apresentando um Festival para todos os gostos musicais, com espectáculos em 3 fins-de-semana de Agosto. O primeiro dedicado à Música Clássica, o segundo ao Pop Rock (nacional e estrangeiro) e o terceiro ao Fado e à Musica Tropical (neste estiveram presentes Amália Rodrigues e o Duo Ouro Negro, respectivamente).


No primeiro fim-de-semana do Festival (dias 1 e 2 de Agosto), estiveram em palco alguns nomes sobejamente respeitados até aos dias de hoje, como são António Vitorino de Almeida, Olga Prats e Natália Correia. Foi pois um fim-de-semana dedicado à Música Clássica Portuguesa, com duas obras em estreia mundial (de António Vitorino de Almeida e Joly Braga Santos). No fim-de-semana seguinte, dedicado à Música Pop, a maioria dos grupos nacionais que actuaram no dia 7 voltaram a apresentar-se no dia 8, com a excepção das atracções estrangeiras; sexta-feira foi a vez dos Manfred Mann e sábado, claro, Elton John com a sua pequena banda (Nigel Olsson na bateria e Dee Murray no baixo). Em relação a este dia, 8 de Agosto de 1971, sabemos que foi o Quarteto 1111 de José Cid a abrir o Festival, seguido de outros grupos portugueses, com destaques para os Pop Five Music Incorporated, Psico, Sindicato de Jorge Palma, Chinchilas, Mini Pop e os Objectivo. Sabemos também que Elton John abriu o seu concerto com o tema da banda-sonora “Friends” que há época tinha sido o último single a ser editado no nosso país (chegou a mesmo a número 1 no nosso Top de Singles, segundo rezam as crónicas). Temos conhecimento que do alinhamento faziam parte os temas “Take Me To The Pilot”, “Honky Tonk Woman”, “Your Song”, “Sixty Years On”, “The King Must Die” e “Burn Down The Mission”, algumas delas encontramos no disco ao vivo “17-11-70”, data real do concerto em Nova Iorque, mas que em disco só teve edição mundial em finais de Março de 1971, isto é, apenas uns meses antes da sua actuação em Portugal. Podemos pois “garantir”, que ouvir este disco é como voltar a estar presente em Vilar de Mouros na noite do dia 8 de Agosto (afinal até a banda de suporte é a mesma).



Outros factos curiosos com a vinda de Elton John a Portugal, prende-se com o seu elevado cachet (perto de 600 contos à época, 3.000 euros actuais). Com efeito na altura Elton ainda não era uma estrela musical à escala planetária, mas em Portugal já tinha um imenso êxito. Senão vejamos; tinha editado no nosso país os seus 3 álbuns de originais (“Empty Sky” em 1969, “Elton John” e “Tumbleweed Connection” ambos em 1970) e 4 discos de 45rpm (“I've Been Loving You” em 1968, “Border Song” em 1970, “Your Song” e “Friends” ambos em 1971). Fora de Inglaterra e dos Estados Unidos, Portugal era o país que mais divulgava a música de Elton John e único que tinha comercializado o seu primeiro disco, “I've Been Loving You”, hoje em dia é mesmo uma autêntica raridade. Para estar presente em Vilar de Mouros, Elton disponibilizou o seu único dia livre, pois já tinha marcado para os dias 9 e 10 de Agosto as gravações do novo álbum, “Madman Across The Water”.


Não sabemos ao certo se esse elevado cachet exigido foi ou não pago ao artista, sabemos sim que ele se apresentou em palco em boa forma, um pouco louco com o piano como era habitual à época (as fotografias podem comprová-lo) e já começava a exibir uma indumentária extravagante, que se tornou numa imagem de marca com o decorrer dos anos e dos seus muitos exageros.



Como também podemos comprovar pelas imagens, eram vários os fotógrafos que captavam esse espectáculo de Elton John e entre eles estava um em particular, Eugénio Costa, sem ele, provavelmente não estaríamos agora a dissertar sobre este acontecimento musical. Não sabemos ao certo quem foi, ou quem é este senhor que tanto gosta(va) da música como da fotografia, temos apenas a informação que vivia na cidade do Porto e que também esteve presente  no Festival de Vilar de Mouros de 1982, assistindo e captando alguns momentos para a posteridade. Esses momentos temos nós guardados e congratulamo-nos por isso. Primeiramente, fazemos votos que Eugénio Costa se encontre bem vivo e seguidamente fazemos votos para que descubra o nosso site e reveja nele as suas fotografias. Elas serviram também de apoio para uma artista da nova geração mostrar os seus dotes. Falamos obviamente da Laroca e dos seus bonecos feitos à mão. E, para quem quiser adquirir a figura de Elton John, tal como ele apareceu em Vilar de Mouros há 45 anos atrás, tem aqui uma oportunidade única, pois foi “criado” para esta ocasião!


Texto de: Francisco J. Fonseca
Fotografias de: Eugénio Costa