“Peter And The Wolf”, “Pierre et Le Loup” e “Pedro e o Lobo”, são três maneiras escrever universalmente uma das obras musicais mais conhecidas de Sergei Prokofiev composta em 1936. A obra foi pensada para mostrar aos jovens a sonoridade de cada instrumento e nada melhor que cada personagem da história ser representada por um instrumento. Assim o Gato é o clarinete, o Pato o oboé, o Pássaro a flauta, o Pedro o violino, o Lobo a trompa e assim por adiante.
Encontramos imensas versões gravadas ao longo do século passado e uma das primeiras que mais êxito alcançou, foi do actor Boris Karloff (famoso pelo seu desempenho de Frankenstein) e a sua versão foi editada no final da década de 40, ainda no formato original de 78 rpm. Em 1957 surge no entanto uma nova gravação (a mais conhecida) já no formato 33 rotações e com a Vienna State Opera Orchestra dirigida por Mario Rossi. Uma das imagens que aqui apresentamos pertence a um LP de 1960 em que surge o popular comentador televisivo norte-americano Garry Moore. O curioso deste disco é que o som dos animais foi captado ao vivo no Zoo de Nova Iorque.
Houve outros três actores bem conhecidos mundialmente que deram voz a esta obra. Em 1956 Peter Ustinov esteve á frente do projecto com a Philharmonia Orchestra dirigida pelo conhecido maestro Herbert Von Karajan. Em 1965 foi a vez de Sean Connery registar o seu contributo com a Royal Philharmonia Orchestra. Também o actor Alec Guiness (popularmente conhecido na saga “Star Wars”) surge em 1988 como narrador e com o acompanhamento da Boston Pops Orchestra. Na galeria dos mais notáveis temos uma interessante gravação de 2005, de Mikhail Gorbachev juntamente com o ex-presidente norte-americano Bill Clinton e a conhecida actriz italiana Sofia Loren.
Mas foi sobretudo em França que esta obra teve um maior impacto entre os artistas e o público, e, encontramos ao longo das décadas várias versões, algumas por sinal bem raras. Das mais conhecidas temos a de Gérald Philipe em 1956 com a participação da Orchestra Symphonique d'URSS, em 1970 a versão de Jacques Brel com La Orchestre Lamoureux, em 1984 é a vez de Jacques Higelin com a Orchestre Philarmonique d' Israel e em 1990 foi Charles Aznavour com a Chamber Orchestra Of Europe, dirigida por Claudio Abbado.
Mas “Pedro e o Lobo” há para todos os gostos e idades. Em 1966 o pianista de Jazz norte-americano, Jimmy Smith, edita a sua versão e passados 12 anos é o “Camaleão do Rock”, David Bowie, gravar com a Philadelphia Orchestra dirigida por Eugene Ormandy. Já que falamos de Rock surgiu em 1975 a versão roqueira, editada pela RSO, em que participaram os músicos Alvin Lee, Gary Booker, Manfred Mann, Chris Spedding, Cozy Powell, Gary Moore, Bill Bruford, Phil Collins e Brian Eno entre outros.
Em 1991 foi a vez de Sting gravar com a Chamber Orchestra Of Europa, com direcção de Claude Abbado e ainda com a participação dos ex-colegas dos Police e de Robert Fripp. Em 2003 foi a altura de Bono Vox dos U2 participar como ilustrador (uma faceta pouco conhecida) no projecto “Peter And The Wolf” do ex-Virgin Prunes, Gavin Friday.
Como seria de esperar e devido à quantidade / qualidade das edições desta obra única de Prokofiev, existem vários colecionadores no mundo à procura da mais rara. Na verdade elas existem mesmo e as mais cobiçadas é a primeira edição de 1939 e um registo gravado em 1947 da então primeira Dama dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt, com a Boston Symphony Orchestra. Esta gravação só foi comercializada pela RCA Victor em 1952, no formato 10” e com a particularidade de estar gravada numa só face. Também muito procurada é uma edição da Deustche Grammophone de 1980 em que surge a famosa violoncelista britânica Jacqueline du Pré. Numa altura em que devido à sua enfermidade já tinha deixado de tocar, esta é a primeira e a última vez que Jacqueline surge como narradora e tem a preciosa participação da English Chamber Orchestra dirigida por Daniel Barenboim.
Deixemos agora para o fim alguma informação sobre as edições em Língua Portuguesa de “Pedro e o Lobo”. Das mais antigas que se conhecem, uma delas de 1960, da etiqueta brasileira Disquinho, foi baseada no filme do Walt Disney e narrada pelo radialista Paulo Roberto. Este EP só sairia em Portugal em 1977 pela J.C. Donas / Vadeca. No entanto a mais cotada e procurada é a versão de Roberto Carlos de 1970 com a New York Philharmonic dirigida por Leonard Bernstein. Há também uma gravação da EMI em 1989 da cantora Rita Lee com a Orquestra Nova Sinfonieta. Menos cotada, menos procurada, mas bem mais difícil de encontrar é a gravação do poeta minhoto António Manuel Couto Viana. Um LP editado em 1973 pela Decca / Valentim de Carvalho, com a participação da Orquestra Sinfónica de Londres dirigida por Skitch Henderson. Rara e invulgar é, por assim dizer, a edição da Ovação em 1988 numa versão literária do narrador Andrade e Silva e com a participação da Orquestra Sinfónica da URSS, dirigida por Gennadi Rozhdestvensky. O que tem pois de diferente nesta edição é a figura de Pedro vestido de forcado (com um típico barrete verde) e os créditos deste conto sinfónico são atribuídos a Sérgio Prokofiev. Assim mesmo, Sérgio, escrito em bom português, tanto na capa como no label (esta gravação também foi editada em 1975 pelo Circulo de Leitores com uma capa única e bem simples - ver a última imagem). Também em 1990 a actriz Eunice Munoz deu a voz a este conto com a colaboração da Nova Filarmonia Portuguesa dirigida por Álvaro Cassuto. Como nota final e referindo outra curiosidade; quem não se lembra dos “Iodo”, um grupo que surgiu com o Boom do Rock Português em 1980? Uma banda que se tornou conhecida pelo single “Malta à Porta” e pelo álbum “Manicómio”, tem no seu registo discográfico o tema “Pedro e o Lobo”, registo incluído no Lado B do segundo single editado em 1981.
Texto: Francisco J. Fonseca